segunda-feira, fevereiro 19, 2007

carne é que vale

Quando pensamos em Carnaval, qual é o sitio em que todos nós pensamos? O.K. Brasil. E qual é o segundo sítio em que pensamos? Exactamente. Veneza!! Vou, pois, nesta segunda intervenção guiar-vos à Sereníssima do início do século XVI, e a um dos seus mais pródigos pintores: Tiziano (c.1485-1576).
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Talvez tenha sido a atmosfera das lagunas, que parece nublar os contornos nítidos dos objectos e fundir as cores numa luz resplandecente, que ensinou os pintores dessa cidade a utilizarem a cor de um modo mais deliberado e perspicaz do que os seus congéneres até então. Ao contrário dos pintores florentinos, os venezianos não consideravam a cor um ornamento adicional da obra, depois de desenhada no painel.

Tiziano foi um dos maiores mestres na interpretação dessa corrente veneziana de cor e luz. Durante a sua vida granjeou tanta fama que chegou a ombrear em prestígio com Miguel Ângelo. Um dos seus mais devotos admiradores era o Imperador Carlos V, o que explica porque é que precisamos de nos deslocarmos a Madrid para vermos a obra escolhida para esta semana. É que a coroa real sofria de uma certa loucura que se traduzia no mecenato artístico e se reflectia numa das mais fabulosas pinacotecas reais de época.

Guio-vos portanto ao Museu do Prado onde poderemos contemplar o quadro O Bacanal. Encomendada pelo Duque de Ferrara, Afonso d’Este, para decorar o Camerino de Alabastro, fazia parte de uma trilogia completa por Oferenda da Deusa dos Amores (Prado) e Baco e Ariadne (National Gallery de Londres). A pintura oferece-nos o tema mitológico do Bacanal ou festa de Baco, deus do vinho. A cena situa-se na ilha grega de Andros onde, segundo se dizia, uma fonte jorrava vinho ao invés de água. No meio de uma cena de carácter festivo onde irrompem as mais acesas paixões, é-nos possível admirar, não só a capacidade do artista desenhar anatomias, nuas e vestidas, como também paisagens e acima de tudo uma mestria no controlo subtil da luz e da cor.


Tiziano - O Bacanal; Museu do Prado, 1518, 175 x 193 cm, Óleo sobre tela

Baco ou Dióniso, filho de Zeus e da princesa Semele, é o deus do vinho, das festas, do lazer. Representava para os antigos o lado oculto do Homem, o lado irracional que se despertava pela ingestão de vinho. É o lado festivo, o lado feminino, o lado livre e descomprometido. Em sua honra se organizavam grandes “cerimónias” a que se davam o nome de bacanais. É o mais próximo ao espírito desta quadra, época de Carnaval, época de Carne é que vale.

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