quinta-feira, março 08, 2007

Sessão das cinco, Jacques Tati e "Mon Oncle".

"São de plastico, nunca murcham", diz um convidado a Mme Arple quando lhe oferece um ramo de flores.
"Na verdade tem um cheiro forte de borracha", responde ela.

Na semana em que morreu o filosofo Jean Baudrillard, esta Sessão das Cinco toma forma de tributo a este autor francês que deixa, no pensamento contemporaneo, um carimbo semelhante ao do realizador que hoje vos apresento: Jacques Tati com o filme: "Meu Tio".
Se Baudrillard criou ferramentas de analise da sociedade contemporânea (da cultura das imagens até ao choque tecnológico e aos simulacros); Tati faz-nos pensar sobre parâmetros semelhantes a sociedade moderna da década de 50.
"Meu Tio" é uma obra cinematográfica que estabelece uma ponte directa com a Arquitectura, neste filme, o realizador contrapõe a habitabilidade dos espaços naturais aos espaços artificiais que caracterizaram a Arquitectura Moderna, ridiculariza o choque tecnológico e os comportamentos humanos deste período.
Tati filma com a camara fixa, seleciona planos fundamentais sem movimentos de câmara em que as personagens adquirem a maxima importância. Sem textos exaustivos, a interpretação das personagens aproxima-se do Teatro Físico o que nos pode fazer sentir perto do cinema mudo.
A familia Arpel é o núcleo central deste filme, a sua casa e a habitabilidade desta são a metafora da Modernidade. Este Tio, que dá titulo ao filme, é o único membro desta familia que nao se encaixa dentro das suas vivências e o heroi do seu sobrinho Gérard. Hulot, o tio, estabelece a ligação entre esta familia moderna e o bairro periférico onde vive. As visitas de Hulot ao sobrinho são assim a ruptura entre estes dois modos de habitar que caracterizou a sociedade dos anos 50, a ordem contra a desordem, a Modernidade em virtude do Tradicional.
"Meu Tio" é o segundo filme sobre o universo do senhor Hulot. O primeiro, "As Ferias do senhor Hulot" abordava ja o perfil desastrado desta personagem interpretada pelo realizador. A minha sugestão larga-se um pouco mais, sugiro-vos o primeiro filme que vi deste realizador e que me fez apaixonar pela sua obra: "Playtime". Garantidamente Tati é um notavel realizador, o tratamento espacial garante-lhe um lugar de distinção na historia do cinema.

Ficha Técnica:
Titulo: Meu Tio (Mon Oncle);
Pais: França;
Ano: 1958;
Elenco: Jacques Tati (Monsieur Hulot), Jean-Pierre Zola (Monsieur Arpel),
Adrienne Servantie (Madame Arpel), Alain Bécourt (Gérard), Lucien Frégis
(Monsieur Pichard), Betty Schneider (Betty), Yvonne Arnaud (Georgette)
Realização: Jacques Tati;
Duração: 111 min;
Fotografia: Jean Bourguin;
Música: Franck Barcellini e Alain Romains

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