terça-feira, novembro 07, 2006

Letreiratura: Fornada de 5 de Novembro

Não são precisas muitas apresentações para o autor que nos forrou as paredes do último Galeria. Umberto Eco tornou-se num notável da palavra escrita com O Nome da Rosa, mas a verdade é que nenhum dos seus livros consegue passar incólume.
Desta vez escolhemos Baudolino, um dos folios mais recentes, e transcrevo abaixo uma das passagens mais apreciadas na emissao.
«Este era um clérigo de Montbelliard que, errante como os seus confrades estava agora em Paris (e frequentava a biblioteca de São Vítor) e amanhã estaria sabe-se lá onde, porque parecia perseguir um seu projecto de que não contava nada a ninguém. Tinha uma grande cabeça de cabelos desgrenhados, e os olhos vermelhos de tanto ler à luz da lucerna, mas parecia mesmo uma arca da ciência. Fascinara-os logo ao primeiro encontro, naturalmente numa taberna, pondo-lhes subtis quesitos sobre os quais os seus mestres passariam dias e dias de disputas: se o esperma pode congelar-se, se a prostituta pode conceber, se o suor da cabeça cheira pior que o das outras partes, se as orelhas coram quando nos envergonhamos, se um homem sente maior dor pela morte do que pelo casamento da amante, se os nobres devem ter as orelhas pendents, ou se os loucos pioram durante a lua cheia.»

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