Há quem aposte tudo num cavalo e veja tudo o que tem a ir contra a cerca. Há quem aposte tudo num livro e ganhe um prémio nobel. Gabriel Garcia Marquez é o escritor colombiano que precisou de empenhar tudo o que tinha para publicar Cem Anos de Solidão, mas no Galeria decidimos dar ênfase, não a uma das suas histórias, mas à história que ele conta da sua vida, ou do que se lembra dela, nos seus «primeiros setenta anos». Viver para Contá-la foi editado em 2002 pelas publicações D. Quixote e não é um livro de bolso. É antes um livro de mala, mala de viagem por exemplo.
Dos quatro rasgos que lhe fiz no último Galeria, o último contava assim:
«Cheguei a ser tão espontâneo que no dia em que se soube do fim da guerra mundial, saímos para as ruas em manifestação de júblio com bandeiras, cartazes e gritos de vitória. Alguém pediu um voluntário para dizer o discurso e avancei sem pensar sequer para a varanda do clube social, em frente da praça principal, e improvisei-o com gritos altissonantes, que a muitos pareceram aprendidos de cor.
Foi o único discurso que me vi obrigado a improvisar nos meus primeiros setenta anos. (...) De maneira que o meu primeiro êxito público não foi como poeta nem romancista, mas como orador e, pior ainda: como orador político. Desde então, não houve acto público do liceu em que não me empoleirassem numa varanda, mas entao eram discursos escritos e corrigidos até ao último suspiro.»
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