quinta-feira, abril 05, 2007

o jantar está na mesa

Estamos a viver a época por excelência dos cristãos. O advento da Páscoa é o ponto alto do ano religioso e não pois de estranhar que os motivos relacionados com este período tenham desde sempre existido na iconografia artística.

A paixão de Cristo é provavelmente dos temas mais reproduzidos nos últimos vinte séculos… e ela começa basicamente à mesa, num jantar de treze judeus há dois mil anos atrás.

Provavelmente quando pensamos na última ceia, a primeira imagem que nos ocorre é a da
“Última Ceia” de Leonardo da Vinci.
Esta pintura é provavelmente a mais icónica de todas as últimas ceias e uma das obras mais famosas do pintor florentino. Pintada para o refeitório do convento de Santa Maria delle Grazie, sob encomenda de Ludovico Sforza, o Mouro.
Tratando-se de uma pintura parietal, o mais óbvio era ser pintado em fresco. No entanto Leonardo gostava de tentar inovar nas técnicas e como tal utilizou uma técnica mista com predominância da têmpera e óleo sobre duas camadas de preparação de gesso aplicadas sobre reboco. A exemplo de outras experiências de Leonardo, o resultado não foi o melhor e rapidamente se começou a deteriorar.
Mas a sua fama foi tal que esta imagem foi constantemente repetida, chegando até nós reproduções em melhor estado do que o original.


Leonardo da Vinci - Il Cenacolo; Santa Maria delle Grazie, Milano, 1495-1497, 420 × 910 cm, Tecnica mista


Mas a temática foi transversal quer cronologicamente, quer geograficamente.
A prova-lo, eis uma ceia portuguesa ainda que não pintada por um pintor português. Francisco Henriques (ou Anriques), sabe-se que morreu no ano de 1518, havendo trabalhado na composição da arte sacra em várias igrejas de Portugal. De origem holandesa, teria vindo da região de Flandres, já experiente na arte e dominando bem a técnica da pintura flamenga.
Deixou-nos várias obras entre quais esta última ceia que se encontra no Museu Nacional de Arte Antiga, na qual é ainda possível observar uma composição com carácter ainda medievo e com bastantes influências do Norte da Europa com qual tínhamos relações comerciais e diplomáticas privilegiadas.


Francisco Henrique - Ultima Ceia; Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, c.1508, 121 × 89 cm, Oleo sobre madeira


Podia eternizar-me aqui em exemplos desde arte paleo-cristã até à arte contemporânea.
Mas é simples… sugiro q façam uma pesquisa na net e descubram como este tema sempre fascinou gente, mesmo que de outras culturas.

Eu para terminar vou deixar uma das obras que acho mais interessante.
Vou voltar a Veneza e ao século XVI… e parece que não quero sair deste pequeno quintal.
Mas atentem bem à cena que o veneziano
Tintoretto nos apresenta. Comparem com as cenas anteriores. Reparem como esta cena é muito mais real, mais mundana, mais dinâmica. Como a mesa, mesmo que em perspectiva domina a composição, até pela utilização da cor. Mas reparem como esta cena se passa numa taberna vulgar, como em primeiro plano o gato aproveita a distracção da empregada para espreitar a comida. Não passa no entanto despercebido ao empregado que o vai enxotar. Todo este apontamento está lá. A movimentação é imaginada somente por nós. É um conjunto de pequenas situações como estas que trazem uma grande dinâmica à tela, contratando com a Ceia de Da Vinci, sem no entanto nunca esquecer o tema central.


Tintoretto - A Última Ceia; Igreja S. Giorgio Maggiore, Veneza, 1592-94, 365 x 568 cm, óleo sobre tela

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