quinta-feira, março 01, 2007

Sessão das cinco, the Oscar goes to...


Fantasporto 2007.

Nada melhor do que uma ida ao cinema à segunda feira à noite, e quando a sessão das cinco é no Fantasporto, não interessa se é segunda, terça feira ou qualquer outro dia da semana. Este festival de cinema dá a conhecer à cidade do Porto uma óptima selecção de filmes que não se fica apenas pelo cinema fantástico.
Sempre gostei de escolher os filmes acidentalmente mas, na segunda feira passada, não foi o caso. Dirigi-me ao Rivoli para ver: "Sketches of Frank Gehry", um documentário realizado por Sidney Pollack.
O documentário de que vos venho falar hoje, é um filme de culto. Este realizador, já premiado com um Oscar para melhor director com "Out of Africa", estreia-se neste género com um filme que documenta a obra do arquitecto Frank Gehry. Lançado em Maio do ano passado em Los Angeles e Nova York, "Sketches of Frank Gehry" foi escolhido pelo festival de Cannes, Toronto e Tribeca.
Este documentário é o resultado de um encontro entre dois criadores, um é o retratista, outro o retratado e cliente do cineasta. Gehry encomenda a Pollack este filme, o que podemos ver ao longo deste 80 minutos é uma conversa tão intimista que chegamos a pensar que acontece ao nosso lado, numa mesa de café. Os recursos são simples, Pollack surge de câmara em punho, gravando tudo em mini-dv enquanto que é filmado juntamente com Gehry por outra câmara. Esta simplicidade estrutural agradou-me profundamente, Pollack consegue um ambiente genuíno, longe dos "tiques" de alguns documentaristas europeus. Só um ambiente tão pessoal poderia desmistificar a figura deste arquitecto de renome; Gehry surge em confronto directo com a câmara e faz-nos uma visita guiada pelo seu atlier, pela a sua vida e pela sua obra. É sempre um privilégio conhecer o processo criativo de um autor pela sua própria mão. Tomamos contacto com a sua metodologia projectual, com a sua equipa, observamos o processo de criação, percebemos as suas referencias enfim, conquistamos o mundo de Gehry sem sair da cadeira. Com Gehry como guia, acedemos ao Museu de Design Vitra na Alemanha, à sua própria casa em Santa Monica (1977/78), ao Museu Guggenheim de Bilbao (1991/97), ao ginásio de Anaheim na Califórnia (1995), e a uma serie de outras obras. Percebemos claramente as suas influencias: Alvar Aalto, Frank Lloyd Wright e a casa "Steeves", Brentwood, Rudolph Schindler e principalmente a casa "Danziger". Se por um lado o ambiente criado pelo cineasta nos permite uma melhor apreensão do universo de Gehry, em determinados momentos, sentimos necessidade de uma intervenção da oposição. Posição essa que poderia ter sido tomada por Hal Foster, se este teórico não tivesse intervido tão pouco tempo.

Podemos gostar ou não da obra deste arquitecto mas, de um modo ou de outro, não podemos ficar indiferentes ao seu posicionamento na arquitectura contemporânea. Ainda não consigo perceber se a obra de Gehry me atrai ou não, (também porque não compreendo porque é que temos de optar por "sim" ou "não", sem a possibilidade de optar pelo "talvez"). A verdade é que são estes autores que levantam questões e motivam conversas como a que decorreu no café do teatro Rivoli depois do filme e, só por isso, já valem a pena.

( sugestão para uma leitura: "Design And Crime (and another diatribes)", Hal Foster, Verso)

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