sexta-feira, janeiro 26, 2007

Sessão das cinco, chã verde e Woody Allen.

(bem sei que os segredos são para guardar mas... )

Depois de ter frequentado assiduamente este estabelecimento fiz-me convidada para criar um novo e pequeno espaço dedicado em absoluto à sétima arte. Sou a Menina dos cafés, responsável, a partir deste momento, pelo departamento dos cafés e das imagens em movimento. Sejam bem vindos à rubrica "Sessão das cinco", um lugar de crítica de cinema sem pretensões formativas. Deste modo, terei um enorme prazer que leiam as minhas opiniões mas não façam delas o motivo que vos levará às salas de cinema.

Mário Perniola diz: “Os objectos, as pessoas, os acontecimentos apresentam-se como algo já sentido, que vem ocupar-nos com uma tonalidade sensorial, emotiva, espiritual já determinada” e quer com isto dizer que toda a informação que hoje chega até nós se apresenta já mediada ou "já sentida", contaminando assim a opinião que possamos vir a ter sobre determinado assunto. Para ilustrar esta situação basta abrir o jornal e escolher o filme pela quantidade de estrelinhas que determinado crítico lhe atribuiu. É assim que começa o processo de contaminação de que falo. Por isso, caros futuros leitores, abram o jornal da pastelaria, terei todo o gosto em que o façam, mas não pensem que vão encontrar a atribuição de estrelas a que os media nos foram habituando.

Venho hoje falar-vos de "Scoop", o mais recente trabalho de Woddy Allen. Parece-me inevitável construir este texto comparando-o com o anterior filme do autor: "Match Point"; vou fazer o dois em um e tentar abstrair-me do facto deste último ser, sem dúvida, um dos meus filmes de eleição.
Em "Match Point" vimos a sensualíssima Scarlett Johansson, em "Scoop" revemos a mesma actriz (estaremos perante a nova musa deste realizador?) mas desta vez num papel absolutamente diferente do anterior; se em "Match Point" a personagem foi evoluindo a par de toda a tragédia (o que vem comprovar que a beleza não é inimiga do talento), em "Scoop" acontece o oposto: Scarlett interpreta uma estudante de jornalismo americana, personagem que se mantém constante ao longo do filme. Repetem-se os mesmos ambientes, "Scoop" é também filmado em Inglaterra, novamente no meio de uma classe aristocrata tipicamente inglesa, num ambiente que parece ser o de eleição do realizador. Repete-se o argumento: mais uma vez a personagem de Scarlett cai num enredo amoroso e envolve-se com o assassino Peter Lyman, protagonizado por Hugh Jackman.
O que distingue então estes dois filmes?
Se "Match Point" é uma tragédia (tal como o nome indica, é a vida no fio da navalha), "Scoop" é uma comédia, uma comédia que só o é porque Woody Allen regressa ao "acting", interpretando, e muito bem, a personagem de um ilusionista que acompanha Scarlett numa saga em busca do assassino. Sid Waterman, o ilusionista americano, entretém-nos com a sua gaguez, o seu discurso repetitivo, e as suas ideias que contrapõem a cultura americana ao modo de viver dos ingleses, mais genuínos. Mas desenganem-se os espectadores que esperam de "Scoop" coisas como estas:

"Chis Wilton: Por vezes, os inocentes são chacinados em prol de uma causa mais nobre. A senhora foi um estrago secundário.
Mrs. Eastby: E o seu filho também?
Chris Wilton: Sófocles disse: "Nunca ter nascido sequer... pode ser a melhor benção."
Woody Allen, in Match Point.


"Scoop" é um bom motivo para sair de casa numa destas noites de frio. A música, inevitavelmente, é boa, Scarlett é sempre bonita de se ver e Woody vem presentear-nos com um humor quase britânico.
"Match Point" é uma boa opção para qualquer altura, rever este filme é encontrar sempre pequenos pormenores que escapam à vista desarmada.


"Scoop"
Ano: 2006
País: Reino Unido / EUA
Género: Comédia / Fantástico
Realização: Woody Allen
Interpretes: Hugh Jacman; Scarlett Johansson; Woody Allen; Ian Mcshane.
Duração: 96 min.
Sitio oficial: www.scoopmovie.net

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